Autor: J. Fonseca | Enfermeiro | Serviço de Urgência Básica – CHBM, EPE | Email – jmdfonseca@gmail.com
RESUMO
Introdução – O sistema de triagem Manchester é reconhecido como obrigatório nos serviços de urgência, qualquer que seja o seu nível de atendimento, sendo reconhecido pelo seu contributo na gestão de cuidados de saúde em contexto de urgência hospitalar. Objetivo – O estudo realizado – descritivo exploratório – tem como objetivo analisar a satisfação dos profissionais de saúde do Serviço de Urgência Básica em relação ao Sistema se Triagem de Manchester. Método – A população alvo, constituída pela totalidade dos profissionais de saúde, enfermeiros e médicos (n=25), foi inquirida através de um inquérito por questionário. Resultados – Dos resultados destaca-se que 76% dos profissionais consideram que o sistema de Triagem de Manchester é Fiável. Relativamente à satisfação com o sistema de triagem destacam-se os itens “Organização do serviço”, com 56% dos profissionais Muito Satisfeito e a “Contribuição para o correto encaminhamento do utente no Serviço de Urgência” com 52% também Muito Satisfeito. Manifestam-se em sentido contrário quanto aos “Conhecimentos dos utentes acerca da triagem”, com 68% dos inquiridos Insatisfeito e 27% Muito Insatisfeito. Conclusão – Os profissionais de saúde do Serviço de Urgência Básica estão Satisfeitos com o sistema de triagem de Manchester (64%). Considera-se necessário avaliar a satisfação dos doentes para verificar se os resultados corroboram a insatisfação dos profissionais, quanto aos “Conhecimentos dos utentes acerca da triagem” de Manchester.
Palavras chaves: Sistema de Triagem de Manchester; Serviço de Urgência; Satisfação dos profissionais de saúde;
Palavras chaves: Sistema de Triagem de Manchester; Serviço de Urgência; Satisfação dos profissionais de saúde;
ABSTRACT
Introduction – The Manchester triage system is recognized as mandatory in emergency services, whatever the level of care, being recognized for its contribution to the management of healthcare in the context of hospital urgency. Objective – The study – exploratory descriptive – aims to analyze the satisfaction of health professionals of the Basic Emergency Service in relation to the Manchester Screening System. Method – The target population, consisting of all health professionals, nurses and doctors (n = 25), was surveyed through a questionnaire survey. Results – Of the results, it is highlighted that 76% of professionals consider that the Manchester Screening system is Reliable. Regarding satisfaction with the triage system, the items “Service organization” stand out, with 56% of the professionals Very Satisfied and the “Contribution to the correct referral of the user in the Emergency Service” with 52% also Very Satisfied. They manifest themselves in the opposite direction regarding the “Users’ knowledge about screening”, with 68% of respondents Dissatisfied and 27% Very Dissatisfied. Conclusion – Health professionals in the Basic Emergency Service are satisfied (64%) with the Manchester screening system. It is considered necessary to assess patient satisfaction in order to verify whether the results corroborate the professionals ‘dissatisfaction with regard to Manchester’s “Users’ knowledge about screening”.
INTRODUÇÃO
Atualmente a implementação de um sistema de triagem de prioridades nos serviços de urgência é obrigatória, qualquer que seja o seu nível de atendimento (Ministério da Saúde, 2015). Neste caso particular, também no Serviço de Urgência Básica (SUB) como primeiro nível de atendimento a doentes urgentes.
O Sistema de Triagem de Manchester (STM) foi reconhecido pela sua importância, na boa gestão de cuidados de saúde em contexto de urgência hospitalar, enquanto instrumento de apoio à decisão clínica na triagem de prioridades no atendimento de doentes dos serviços de urgência.
Uma das formas de garantir cuidados adequados e de maior qualidade passa pela uniformização de procedimentos dos diversos profissionais e equipas multidisciplinares, que devem atuar sequencial, ou simultaneamente de acordo com as situações. Esta atuação ao nível dos procedimentos requer uma política de formação adequada dos profissionais de saúde que trabalham no Serviço de Urgência (SU), maioritariamente destinada aos enfermeiros uma vez que os triadores do STM conhecidos nos serviços de urgência em Portugal são enfermeiros.
A formação permite o desenvolvimento de competências e aptidão dos profissionais para utilização do STM e consequentemente, produza um determinado nível de satisfação nos profissionais. É desta forma que os profissionais têm uma opinião formada, que traduz um determinado nível de satisfação sobre o sistema de triagem, percecionado através da prática clínica.
Neste âmbito, o presente estudo tem como objetivo analisar a satisfação dos profissionais de saúde do SUB em relação ao STM. O estudo foi realizado através de um inquérito suportado por um instrumento de recolha de dados (questionário), previamente definido pelo Grupo de Português de Triagem (GPT).
O questionário foi aplicado à totalidade dos profissionais de saúde (enfermeiros e médicos) que trabalham no SUB, independentemente de terem formação em triagem, uma vez que neste serviço só os enfermeiros têm essa formação e realizam a triagem de prioridades de doentes.
Os resultados apresentados advêm do tratamento e analise dos dados obtidos através dos questionários respondidos pelos inquiridos (n=25).
ENQUADRAMENTO
O SUB é o primeiro nível de acolhimento a situações de urgência, de maior proximidade das populações, e constitui um nível de abordagem e resolução das situações mais simples e mais comuns de urgência. Este serviço de urgência constituem-se ainda como um nível de estabilização inicial de situações urgentes de maior complexidade nas situações que exijam um nível de cuidados mais diferenciado, e em que o Sistema de Integrado de Emergência Médica (SIEM) não tenha condições para assegurar o transporte direto para esse nível de responsabilidade de urgência mais elevado, ou quando o utente não recorra aos serviços de atendimento telefónico que existem ao dispor do Sistema Nacional de Saúde (SNS) e, como tal, se dirija diretamente ao SUB (Ministério da Saúde, 2014).
O Ministério da Saúde (MS), através do Despacho n.º 10319/2014), reconheceu como obrigatória a implementação de sistemas de triagem de prioridades no Serviço de Urgência (SU), determinando que em todos eles, qualquer que seja o nível, deve existir um sistema de triagem que permita distinguir graus de prioridade, de modo que, se houver tempo de espera, se exerçam critérios preestabelecidos de tempo até à primeira observação médica.
Uma das formas de garantir cuidados adequados e de maior qualidade consiste na uniformização de procedimentos entre os diversos profissionais e equipas multidisciplinares que devem atuar sequencial ou simultaneamente consoante as situações.
Neste sentido foi reconhecida a importância, para a boa gestão de cuidados de saúde em contexto de urgência hospitalar, comprovada internacionalmente, do STM enquanto instrumento de apoio à decisão clínica na triagem de doentes dos serviços de urgência, e que, adaptado à realidade portuguesa, é usado com resultados positivos (Ministério da Saúde, 2015, Direção Geral da Saúde, 2015). Efetivamente, o STM foi criado e implementado em 1997 no Hospital de Manchester e posteriormente adotado por alguns países de Europa, onde se inclui Portugal, desde 2000, por intermédio do Grupo Português de Triagem (GPT) e com aprovação do MS, Ordem dos Médicos (OM) e Ordem dos enfermeiros (OE) (Grupo Português de Triagem, 1997, Amaral, P. 2017).
O STM é um instrumento de apoio à decisão clínica na triagem de doentes nos serviços de urgência que pretende uniformizar os procedimentos, o apoio à decisão, a qualidade e adequação dos cuidados e a responsabilização, tanto dos utilizadores como dos profissionais dos serviços de urgência.
O objetivo do STM é fazer triagem de prioridades, isto é, identificar critérios de gravidade de uma forma objetiva e sistematizada, que indicam a prioridade clínica com que o doente deve ser atendido e o tempo alvo recomendado até à observação médica.
O método consiste em identificar a queixa inicial e seguir o respetivo fluxograma de decisão. O fluxograma contém várias questões a serem colocadas pela ordem apresentada que constituem os discriminadores. Perante a identificação do discriminador relevante determina-se a prioridade clínica (Grupo Português de Triagem, 1997).
A utilização do STM classifica o doente numa de 6 categorias identificadas por um número, nome, cor e tempo alvo para a observação inicial (Quadro I).
Quadro I – Categorias do STM identificadas por número, nome, cor e tempo alvo para atendimento
Número | Nome | Cor | Tempo Alvo |
1 | Emergente | Vermelho | 0 minutos |
2 | Muito Urgente | Laranja | 10 minutos |
3 | Urgente | Amarelo | 60 minutos |
4 | Pouco Urgente | Verde | 120 minutos |
5 | Não Urgente | Azul | 240 minutos |
6 | Não Classificável | Branco | — |
Fonte: Manual do Formando – Grupo Português de Triagem, 2º Edição 2010
Em termos gerais, este método de triagem fornece ao profissional não um diagnóstico, mas uma prioridade clínica. Este conceito baseia-se em três princípios: i) a observação de triagem num serviço de urgência tem como propósito facilitar a gestão clínica dos doentes e paralelamente a gestão do serviço, através da atribuição exata de uma prioridade; ii) o tempo de observação de triagem não pode visar a obtenção de um diagnóstico; iii) a prioridade não tem de estar obrigatoriamente relacionada com o diagnóstico, deve é refletir um número de aspetos de uma condição particular apresentada pelo doente (Grupo Português de Triagem, 1997).
Em linhas gerais, requer que o triador selecione a queixa apresentada e procure um conjunto de sinais e sintomas associados. Os sinais e os sintomas são designados por discriminadores e apresentados em forma de fluxograma. Os discriminadores que indicam prioridade mais alta são procurados prioritariamente.
No seguimento do referido, o sucesso do STM depende mais da disciplina e treino na aplicação do algoritmo que da diferenciação do profissional. Esta disciplina só é possível através de “…formação necessária para introdução de um método de triagem normalizado.” (Grupo Português de Triagem, 1997:23). A política de formação preconizada assenta na formação dos profissionais de saúde que trabalham no SU, médicos e enfermeiros, sabendo à partida que o maior número de formandos são enfermeiros uma vez que, conhecendo a realidade portuguesa, o processo de triagem é realizado por enfermeiros por questões de gestão de recursos, deixando desta forma, os médicos mais disponíveis para avaliação clínica dos doentes, embora o controlo do sistema seja sempre médico.
A formação baseia-se, entre outros objetivos, em i) uniformizar conceitos e termos utilizados na abordagem inicial do doente na triagem, ii) desenvolver competências para realização de triagem de prioridades de Manchester. Não se prevê que a formação produza uma perícia instantânea em triagem mas é o primeiro passo para permitir aos profissionais o desenvolvimento da sua competência e aptidão para utilização do STM e consequentemente, produza um determinado nível de satisfação nos profissionais (Grupo Português de Triagem, 1997).
A satisfação é referida por alguns autores como algo de bom que é responsável pelo crescimento e desenvolvimento dos profissionais e das organizações (Freitas, M. 2014). No que importa aos enfermeiros, a mesma autora refere, que a adesão ao STM nos SU tem tido um crescimento exponencial, e que estes profissionais se mostram satisfeitos sempre que são considerados fatores relacionados com o trabalho, nomeadamente autonomia, reconhecimento e responsabilidade. Especificamente no que refere ao STM, refere ainda que os enfermeiros indicam como fatores de satisfação, a organização e orientação dos doentes na triagem que por norma é efetuada em espaço próprio normalizado – posto de triagem.
Estes são os pressupostos e fundamentos que conduziram à realização do estudo em questão.
METODOLOGIA
Durante a realização deste estudo, o processo de investigação operacionalizou-se através de escolhas metodológicas inseridas numa estratégia de pesquisa que privilegia o método quantitativo.
O método de estudo adotado indica que os estudos que utilizam este método recolhem factos, estudam relações entre eles e realizam medições com a ajuda de técnicas quantificáveis (Tavares, D. 2007). Desta forma, o método quantitativo “é um processo sistemático de colheita de dados observáveis e quantificáveis” e tem como objetivo “contribuir para o desenvolvimento e validação dos conhecimentos” (Fortin, M. 2003:22).
No caso específico deste estudo, pretende-se fazer o levantamento de uma dada realidade, num campo ainda pouco estudado. Com base no objetivo definido, o tipo de estudo adotado para realizar esta investigação – estudo exploratório-descritivo – tem como referência a analise da satisfação dos profissionais de saúde do SUB em relação ao Sistema de Triagem de Manchester e justifica-se pelo facto do estado do conhecimento neste nível de investigação ser ainda pouco conhecido.
Por isso, o recurso a um estudo com características exploratórias tem como finalidade o reconhecimento de uma determinada realidade pouco ou deficientemente estudada que permita levantar hipóteses de entendimento para essa mesma realidade (Carmo, H. & Ferreira, M. 1998).
Os estudos que se baseiam na opinião de indivíduos sobre a mudança que pode acontecer, sustentam-se na abordagem descritiva. Um estudo desta natureza tem a vantagem de não estudar um único sujeito, utiliza antes situações em grande número, para se assegurar que o objeto de estudo é bem descrito (Gauthier, B. 2003).
Quando se iniciou o processo de caracterização da população, foi necessário estabelecer critérios de seleção para o estudo. Optou-se por definir que a população alvo seria caracterizada pela totalidade dos profissionais de saúde – enfermeiros e médicos – que trabalham no SUB, independentemente de terem formação em triagem de Manchester. Este pressuposto, justifica-se pelo facto destes profissionais de saúde reuniram os seguintes critérios: i) os enfermeiros são os profissionais que realizam a triagem de prioridades de Manchester; ii) os médicos realizam a prática assistencial atendendo à triagem de prioridade atribuída pelos triadores; iii) são prestadores diretos de cuidados de saúde aos doentes; e iv) são os profissionais de saúde que detém mais conhecimento sobre o tema que se pretende estudar.
Deste processo, considerou-se que a população alvo seria constituída por 25 profissionais de saúde – 18 enfermeiros e 7 médicos.
Para a realização deste estudo, foi estruturada uma estratégia de pesquisa que assentou na pesquisa não documental através da aplicação de um inquérito. A utilização da técnica referida teve como intenção a recolha de informação com vista ao aprofundamento do tema de estudo, efetuada a partir do recurso à pergunta.
O inquérito por questionário teve como finalidade a exploração de informação de natureza predominantemente quantitativa. Esta técnica é efetivamente a mais adequada para obter este tipo de informação e com ela pretendeu-se essencialmente identificar as opiniões representativas da população em estudo (Ghiglione, R. & Matalon, B. 2001).
Para se obter resposta ao estudo, é necessário definir a técnica de investigação que permita a recolha de dados. Existem diversas formas de colheita de dados numa investigação, o que implica que a escolha do instrumento seja feita de acordo com o tipo de estudo e os objetivos a atingir (Tavares, D. 2007). Pela natureza quantitativa do estudo em questão, determinou-se que a técnica de investigação a utilizar seria o inquérito por questionário no sistema de autoadministrado.
Quanto ao formulário do inquérito – o questionário – reporta-se à opinião dos profissionais de saúde do SUB em relação ao sistema de triagem de Manchester existente no SUB.
A estruturação do questionário é da responsabilidade do GPT, como forma de uniformização do instrumento de recolha de dados em estudos desta natureza nos serviços de urgências do SNS e instituições de saúde privadas, efetuada em função dos objetivos inerentes ao conteúdo, forma e tipo de perguntas, favorecendo as questões fechadas. O questionário estruturou-se em três partes: i) o nível de satisfação em relação à formação em triagem, ii) opinião sobre o processo de triagem e iii) nível de satisfação dos profissionais relativamente ao processo de triagem.
Relativamente às questões do questionário optou-se por questões fechadas, forma de resposta alternativa que mede o nível de satisfação.
O processo de recolha dos questionários preenchidos foi efetuado no mesmo local da entrega, rececionados em envelope fechado distribuído previamente pelo investigador como forma de reforçar a confidencialidade garantida aos inquiridos. Dos questionários rececionados, todos foram validados o que corresponde a 100 % do total da população em estudo.
A apresentação dos dados obtidos durante a realização do estudo é efetuada em dois momentos distintos: i) caracterização da população estudada e ii) apresentação dos resultados que dão resposta ao objetivo do trabalho.
Os dados recolhidos através do instrumento de recolha de informação foram inseridos e tratados através de uma base de dados construída no Microsoft Office Excel para melhor representação e compreensão dos resultados obtidos.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
A população inquirida no estudo de satisfação dos profissionais de saúde, relativamente ao sistema de triagem de Manchester no Serviço de Urgência Básica (SUB), é constituída por um total de 25 profissionais distribuídos por médicos (8) e enfermeiros (17), sendo o grupo mais representativo o dos enfermeiros com 68%. (Gráfico I)

No que importa à caracterização da população estudada por género, verifica-se que o género feminino tem maior representatividade (84%) face ao masculino (16%). (Gráfico II)
GráficoII – Representação da população por género

Da interpretação dos dados relativos à distribuição por idade, representados no quadro 2, constata-se que a maior percentagem dos inquiridos se encontra na categoria dos 41 aos 65 anos, tanto no grupo dos médicos como nos enfermeiros, com 76%. O intervalo com representatividade imediatamente a seguir é dos 26 aos 40 anos, em 24% dos profissionais.
Quadro II Caracterização da população por idade
Enfermeiros | Médicos | |||
Intervalo | Idade | Idade | Total | % |
25 anos ou menos | 0 | 0 | 0 | 0% |
26-40 anos | 4 | 2 | 6 | 24% |
41-65 anos | 13 | 6 | 19 | 76% |
mais de 65 anos | 0 | 0 | 0 | 0% |
NS/NR | 0 | 0 | 0 | % |
Total profissionais | 17 | 8 | 25 | 100% |
Analisando a distribuição da população por tempo de experiência profissional, verifica-se que 80% dos profissionais tem mais de 15 anos de serviço. Quando realizada a análise por grupo profissional, neste mesmo intervalo, constata-se que nos médicos a representatividade é de 80% e nos enfermeiros de 76%. (Gráfico III)
Gráfico III – Caracterização da população por intervalo de tempo de experiência profissional

No que se refere aos profissionais com formação em triagem, verifica-se que apenas 14 enfermeiros detinham formação (82%) e 3 aguardavam a sua realização (18%). Do grupo dos médicos nenhum tinha formação em triagem. (Gráfico IV)Quanto à permanência no serviço desde a implementação do processo de triagem Manchester conclui-se que apenas 56% dos profissionais se mantém em funções desde o início (10 enfermeiros e 4 médicos).
Gráfico IV – Valores relativos e absolutos dos profissionais com formação em triagem

Nível de Satisfação em relação à formação em triagem
No que importa ao grau de satisfação dos profissionais em relação à formação em triagem de Manchester, verificando-se que apenas o grupo dos Enfermeiros detinha formação, constatou-se que dos 17 enfermeiros que constituem a equipa, apenas 14 tinham esta formação.
Para avaliar esta dimensão foi utilizada uma escala de avaliação do nível de satisfação composta pelos seguintes scores (Muito satisfeito, Satisfeito, Insatisfeito e Muito insatisfeito), onde foi possível verificar que os enfermeiros estão Muito Satisfeito com os vários aspetos considerados na avaliação da formação. (Gráfico V)
Quadro III – Nível de satisfação dos profissionais relativamente ao processo de triagem

Gráfico V – Avaliação dos enfermeiros quanto à formação em triagem

Opinião sobre o processo de triagem
No seguimento da análise das respostas obtidas, analisamos igualmente a opinião dos inquiridos sobre a fiabilidade do processo de triagem. Nesta questão obtivemos respostas dos dois grupos profissionais através de uma escala de avaliação da fiabilidade (Muito Fiável, Fiável, Pouco Fiável e Nada Fiável).
Consideraram que o processo de triagem é Fiável 71% dos enfermeiros (n=12) e 88% dos médicos (n=7) é Muito Fiável 29% enfermeiros (n=5) e 13% dos médicos (n=1). Relativamente aos níveis de fiabilidade Pouco Fiável e Nada Fiável não obtivemos qualquer resposta.
Da análise global da Fiabilidade do processo de triagem, concluímos que 76% (n=19) dos profissionais consideram que o processo é Fiável e 24% (n=6) Muito Fiável. (Gráfico VI)
Gráfico VI – Fiabilidade do processo de triagem

Nível de satisfação dos profissionais relativamente ao processo de triagem
A satisfação dos profissionais em relação ao processo de triagem foi analisada com base na seguinte escala de satisfação (Muito Satisfeito, Satisfeito, Insatisfeito e Muito Insatisfeito) onde obtivemos respostas dos dois grupos profissionais. As questões apresentadas serviram para avaliar a satisfação dos profissionais relativamente a catorze itens referentes a várias áreas que incidem desde a adequação do espaço físico, organização do serviço, organização do trabalho, benefícios para os doentes e profissionais até ao grau de satisfação global, entre outros, conforme apresentado no gráfico 7.
Gráfico VII – Nível de satisfação por grupo profissional em relação ao processo de triagem

Dos resultados obtidos verifica-se que o nível mais baixo de satisfação se encontra nos itens “Conhecimentos dos utentes acerca da triagem”, com 68% dos inquiridos Insatisfeitos e 27% Muito Insatisfeitos com dezassete e sete respostas respetivamente (quadro 3). Este nível de insatisfação é transversal aos dois grupos profissionais conforme gráfico 7.
Relativamente à “Aceitação dos utentes em relação aos tempos de espera definidos na triagem”, 48% (n=12) dos profissionais referem sentir-se insatisfeitos com a aceitação dos doentes. Contudo, 37% (n=9) referem que se encontram satisfeitos. Os enfermeiros são o grupo profissional mais satisfeito com a aceitação dos doentes em relação aos tempos de espera definidos. (Gráfico VII)
Os itens “Beneficio para os utentes” e “Benefício para os profissionais” e “Adequação ao espaço físico” foram os que mais se destacaram na satisfação dos profissionais, 60% referem estar Satisfeitos e Muito Satisfeitos 40% e 36% respetivamente (gráfico VII). No entanto, a “Adequação ao espaço físico” não obteve qualquer resposta como Muito satisfeito. Já os enfermeiros são o grupo profissional mais satisfeito nestes itens. (Gráfico VII).
A “Organização do seu serviço” e “Contribuição para o correto encaminhamento do doente no serviço de urgência” foram os itens que seguidamente mais se destacaram na satisfação. Sobre a organização do serviço 56% dos profissionais estão Muito satisfeitos e 40% Satisfeitos e quanto à contribuição para o correto encaminhamento do doente 52% estão Muito satisfeitos e 36% Satisfeitos. Os enfermeiros continuam a ser efetivamente os mais satisfeitos (gráfico 8).
O “Trabalho de equipa” (52%), “Atendimento dos doentes segundo o grau de prioridade da sua situação clinica” (52%), “ Adaptação à realidade do serviço de urgência do hospital” (53%) , “Contribuição de uma melhor fluência do circuito do utente no serviço” (52%), “Contribuição para o correto encaminhamento do utente no serviço de urgência” (52%) e Contribuição de uma melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados” (49%), foram os itens que obtiveram o nível de Satisfeito por parte dos profissionais. Analisada a satisfação dos dois grupos profissionais constata-se que os enfermeiros continuam a atingir um maior nível de satisfação.
A “Organização do trabalho” mereceu um nível de satisfação dos profissionais equitativo para Muito Satisfeito (48%) e Satisfeito (48%) com 12 respostas cada.
Analisado o “Grau de satisfação global”, concluiu-se que 28% dos profissionais consideram estar Muito satisfeitos com o processo de triagem e 72% Satisfeitos. Quando comparado o nível de satisfação por grupo profissional (figura 8), verifica-se que os enfermeiros têm um nível de satisfação, em relação ao processo de triagem, superior aos médicos em todos os itens analisados, com exceção do item “Conhecimento dos utentes acerca da triagem”. Neste item existe um nível de insatisfação nos dois grupos profissionais, onde 69% (17) dos inquiridos responderam estar Insatisfeito, 24% (n=7) Muito Insatisfeitos e apenas 4% (n=1) Satisfeito.
CONCLUSÃO
O SUB do CHBM EPE tem implementado o STM como forma de priorizar o atendimento de doentes urgentes. O estudo incidiu sobre a satisfação dos profissionais de saúde, médicos e enfermeiros (n=25), em relação ao sistema de triagem e foi realizado um estudo descritivo exploratório com metodologia quantitativa, com recurso a inquérito por questionário.
Os enfermeiros são o grupo profissional mais representativo (68%) e o género feminino é o que assume maior preponderância (84%). Como atualmente só os enfermeiros têm formação em triagem (82%), a equipa de triadores é constituída exclusivamente por enfermeiros. No entanto, uma vez que o processo de triagem envolve todos os profissionais de saúde porque a prioridade atribuída ao doente na triagem define a ordem e o tempo alvo de atendimento pelo médico, considerou-se pertinente e necessário abranger no estudo o grupo profissional médico.
Dos resultados obtidos destaca-se que 76% dos profissionais consideram que o sistema de triagem de Manchéster é Fiável. No que concerne à satisfação com o sistema de triagem há a destacar os itens “Organização do serviço”, onde 56% dos profissionais se mostra Muito Satisfeito e a “Contribuição para o correto encaminhamento do utente no Serviço de Urgência” com 52% também Muito Satisfeito. No entanto, manifestam-se em sentido contrário quanto aos “Conhecimentos dos utentes acerca da triagem”, onde 68% dos inquiridos está Insatisfeito e 27% Muito Insatisfeito.
Conclui-se, assim, que os profissionais de saúde do SUB estão Satisfeitos com o STM, uma vez que 64% responderam neste sentido.
Considera-se necessário avaliar também a satisfação dos doentes para verificar se os resultados corroboram a insatisfação dos profissionais em relação ao nível de “Conhecimentos dos utentes acerca da triagem” de prioridades de Manchester, visando avaliar a necessidade de introdução de medidas que promovam o melhor esclarecimento dos doentes.
REFERÊNCIAS
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